59, Rue Rivoli (Paris/França) << back
 

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  59, Rue Rivoli, rue de Rivoli, 4ème Et., F-75001 PARIS, França
 
   
 

Rua Rivoli, 59 – A história alternativa de um espaço cultural no seio de Paris

A 1 de Novembro de 1999, dia de finados, o KGB (Kalex, Gaspard, Bruno) faz uma investida no nº 59 da Rua Rivoli, em Paris, num imóvel deixado ao abandono pelo banco Crédit Lyonnais e pelo Estado francês. Rapidamente uma dezena de artistas dá uma ajuda, a fim de reabilitar o lugar encontrado em estado de degradação pública (pombos, seringas, …) O objectivo da operação era reanimar um lugar desaproveitado, permitir aos artistas um espaço de criação, de alojamento e de exposição e, ainda, de demonstrar que era possível fundar uma política cultural alternativa.
Assim formado, o colectivo toma o nome “Chez Robert, électron libre” e organiza inaugurações, performances, exposições, bem como abrindo gratuitamente ao público todos os dias das 13h30 às 19h30, salvo Domingo. O Estado francês apresenta queixa contra os artistas, condenados à expulsão a 4 de Fevereiro 2000. No entanto, graças à sua advogada, Florence Diffre, conseguem obter uma dilação do prazo por seis meses. É então que a imprensa se apodera do fenómeno “squart” – contracção de squat [espaço abandonado ilegalmente ocupado] e arte – e consegue, através da mediatização do fenómeno, a que o poder público se debruce sobre o dossiê negligenciado há anos.
Alguns responsáveis políticos tomam posição pública a favor dos artistas do squat, a Delegação dos Artistas Plásticos também apoia o projecto Rua de Rivoli, 59 e um parecer sobre o “movimento” é encomendado ao Ministério da Cultura. Não obstante, a situação do squat da Rua de Rivoli continua precária e na iminência de despejo.
Depois do período de inverno (Novembro 2000 – Março 2001), durante o qual os despejos são geralmente congelados, o colectivo aguarda os resultados das eleições municipais parisienses. A vitória da esquerda permite aos artistas obter um adiamento. Acabado de nomear, o novo vereador da cultura, Cristophe Girard faz a promessa de tudo fazer para impedir a expulsão dos artistas. Um relatório do Ministério da Cultura indica que com 40.000 visitantes por ano, o squat “Chez Robert électron libre” se tornou o terceiro centro de arte contemporânea mais visitado em Paris.

Uma segunda vaga mediática cobre o movimento, vaga essa que torna politicamente comprometedora a expulsão efectiva dos artistas. Na crista da onda, o colectivo “Chez Robert éléctron libre” escreve um projecto intitulado “L’essaim d’art, tentative de pérennisation du squat de la Rue Rivoli” [A turba da arte, tentativa de perpetuação do squat da Rua de Rivoli] e envia-o a Rémy Bovis, nomeado pela Câmara Municipal de Paris para o dossiê dos squats (criação de um posto de trabalho!).
Seis meses mais tarde, a notícia explode durante uma entrevista de presidente Bertrand Delanoë para o suplemento cultural Figaroscope: a Câmara comprará o imóvel da Rua de Rivoli ao Estado francês com o objectivo de dar início, se as regras forem respeitadas, ao Project “L’essaim d’art”, ligeiramente modificado, proposto pelos artistas. O processo de legalização começou então. A fim de o dotar de existência legal e na esperança de assinar uma futura convenção de ocupação com a Câmara Municipal de Paris, o colectivo “Chez Robert éléctron libre” constitui-se como associação e passa a chamar-se “59 Rivoli”.
À hora, alguns estudos estavam em curso para determinar a possibilidade legal, depois de obras de recuperação do prédio, do prosseguimento das actividades do colectivo. Entretanto, passado um longo tempo administrativo, a 28 de Março de 2006, é ordenado que o squat feche, após seis anos de actividade artística e abertura ao público.
Dois anos mais tarde, e com os trâmites jurídicos repostos, o Rivoli, 59 reabre para dar novamente lugar aos artistas e tornando-se um verdadeiro ninho cultural por onde passam dezenas de artistas de todos os quadrantes e milhares de visitantes vindos dos quatro cantos do mundo. São produzidas várias centenas de exposições, rivalizando com os grandes centros culturais.
Os artistas que ali trabalham conseguiram, finalmente, um acordo com a Câmara Municipal de Paris um acordo para continuar a dispor do espaço, e para continuar a sua missão: tornar acessível ao público que deseja entrar no universo dos ateliês dos artistas e aos artistas que procuram um espaço de trabalho ou de exposição fora do circuito ultra-fechado e elitista das galerias de arte.
(Texto traduzido do francês e adaptado do site www.59rivoli.org por Margarida Rocha de Oliveira)